Páginas

aLmofadas


Já reparou que as mulheres gostam de ter muitas almofadas? Não basta uma ou duas ou três. Não, têm que ser 5, 7 ou 9 [10 para arredondar]. Uma de cada cor. É confuso, você está no sofá ou na cama assistindo a um filme e elas estão ali, amontoadas nas suas costas, debaixo do seu braço, no meio das suas pernas, atrás da orelha. A sensação é que você está o tempo todo cercado por aquelas coisas fofas e, por incrível que pareça, não pode fugir. Aí você bate daqui, soca dali pra ver se o problema é com você. Nada. Continuam ali debaixo, fingindo que te confortam, que te esquentam. E olha que eu nem cheguei nas cobertinhas que elas insistem em cobrir vocês dois na hora do filme. Tá calor? Se fudeu.

A verdade é que elas estão ali sufocando você. Igual naqueles filmes. O bandido enterra uma almofada na cara do outro até ele perder a respiração. Ou usa a almofada para abafar o som do trêis oitão. Não, não é igual. É pior. Neste caso as almofadas matam aos poucos, paulatinamente. É cruel. No começo você esmurra a coisa pra ver se melhora. Mas elas sempre voltam à posição anterior. Você faz movimentos bruscos para mostrar que não está satisfeito. No fim, você se acostuma. Entrega-se. É foda, você sabe que não precisa daqueles quadradinhos coloridos te apalpando. Você preferiria ficar no chão frio. Quieto. Pensando em nada. Sua única exigência seria uma parede bem sólida para apoiar as costas. Mas não, você não tem coragem. Você fica ali o tempo todo no falso conforto. Derrotado. Reclamando em silêncio [das almofadas].

Nenhum comentário: