Páginas

a mEsma pRaça

Um casal dengoso. Três crianças ao sol. Um aprendiz de malabarista. Um grupo de adolescentes vestidos de preto [não eram emos, tão pouco new punk rock street guys vintage flowers]. Um bêbado. Segue. Pára. Há outro casal grudado no banco da praça.

Ele, alto, magro, tênis velhos metidos nos pés e blusa listrada de amarelo e cinza. Ela, pequenina, nem magra nem gorda (tá bom, é gordinha), óculos redondos de armação grossa e perninhas curtas. Enquanto conversavam, as perninhas balançam com uma distância considerável do solo: "...conversa vai, pezinhos vêm, conversa vem, pezinhos vão, mas nunca tocam o chão." [não, você nunca ouviu isso antes. Não, não resisti].

Clímax. Algo que ele diz a faz gargalhar. As perninhas balançam mais do que nunca [ou mais do que sempre]. Cada vez mais longes do chão. Ele continua com as pernas largadas e os pés enterrados. Ela flutua. Leve. Satisfeita. As mãozinhas se juntam no cólo concentradas para alcançarem o ponto de equilíbrio. Seu chacra-mór. Seu íntimo [ou isso tudo junto]. Agora entendi porque há vão debaixo dos bancos da praça. Para as perninhas poderem balançar livremente. Sem atrito. Pra lá e pra cá, para cá e para lá. Silêncio. Dez, quinze, vinte segundos. Entreolham-se. Calados. Sorriem. Mais quinze segundos. Ninguém se incomoda. Será o amor? Balança mais pra cá, mais pra lá. Por um segundo desejei ter pernas curtas. Pra lá. E. Pra cá.

Nenhum comentário: