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gRampo


- De quem é esse grampo?

- Não sei, não é seu?

- Eu não uso grampo. Anda fala, de quem é esse grampo que eu achei aqui na cama?

...

Meu deus, e agora Ela me pegou, droga Como é que eu pude ser tão estúpido Putz, um grampo vai fuder meu casamento Não é possível que eu caí nessa Que básico, que estúpido, que amador Ou melhor, que amante amador eu fui Nem foi tão bom Foi só uma vez e pronto Já está Passou Tinha até esquecido Acabou Não quero vê-la de novo Estava sozinho pô Foi por acaso Eu gosto tanto dela, não fiz por mal Não muda nada Eu a amo Vai acabar assim Por causa da merda de um grampo Não pode Mas não tem outro jeito ela achou o grampo Vou confessar ela vai me perdoar e vai ficar tudo bem Não não vai Ela nunca vai esquecer isso Vai fingir que esqueceu Fingir que me perdoou Mas não vai Sempre que me deixar sozinho vai pensar será que ele está com outra Nosso casamento vai apodrecer aos poucos até o cheiro ficar insuportável Aí acaba Aí passaram 10 anos Aí meu filho fica sem pais

Peraí, o que que eu estou dizendo? Podia ser pior. E se ela encontrasse um fio de cabelo loiro? Aí sim ia fuder. Um cabelo loiro não se encontra por acaso numa cama. Cabelo loiro é inconfundível. Já diz tudo. Denuncia. Não tem como negar. Impossível. Oh, meu bem, esse cabelo não é seu? Rá, ela não é loira. Vai brotar na cabeça dela um fio amarelão do nada? Óbvio que não. Cabelo loiro é cabelo de amante. Cabelo loiro já vem com pecado em anexo. Cabelo loiro é a maçã proibida. Um fio de cabelo loiro pode destruir o mundo. Lembra da Helena? Um grampo não. Um grampo é plausível. É racional. Pensa só, o grampo foi inventado para deixar alguma coisa no lugar, não foi? Organizar. Arrumar. Disciplinar. Não pode ser uma coisa ruim. Não. Grampo é bom. Que bom que você encontrou um grampo, querida. Aproveita pra arrumar o seu cabelo que está todo em pé. Ele fica bem mais bonito arrumadinho. E outra, você fica muito brava quando eu despenteio o seu cabelo. Furiosa, aliás. Cabelo de mulher não se mexe, você sempre diz. Não vai dar certo. Ela acabou de dizer que não usa grampo. Vou tentar.

- Tem certeza que esse grampo não é seu?

- Claro que não, Jorge. Eu fiz permanente. Anda, de quem é esse grampo?

Puta que o pariu. Permanente. É mesmo, ela agora é meio loira. Ah! Porque não eu não trouxe uma loira? Ia funcionar direitinho. Não seria do mesmo tom, mas aí era só dizer que o fio desbotou com o tempo. Pronto. Morreu a conversa. Ela não ia fazer o teste de DNA. Muito caro. Já gastou o dinheiro do ano todo com os peitos novos. E nem ficou tão bom assim. Ah, grampo, grampo, grampo, como esse grampo ia aparecer? Da janela? Um pássaro trouxe. Aqui é cheio de pombos.

- Pombos.

- O quê? Jorge, o que que você está falando?

Eu falei isso?? Putz. Concentra, concentra. Grampo. Um grampito. Ah, não dá, acabou o tempo. Não sei, vou confessar. É melhor ser sincero. Digo que eu estava com saudades dela, eu transei com outra mas pensei o tempo todo nela. Era ela que eu queria. Minha querida esposa. Ah, por que ela tinha que viajar 1 semana para um congresso de dermatologia? Por que eu não limpei a casa, droga. Peraí, a empregada! Claro, a Dna Maria usa grampo concerteza. Aquele cabelo todo atrapalhado, os fiozinhos levantados. Grampo neles. É isso! Foi arrumar a cama e o grampo, vejam só, caiu!

- Se não é seu é da Dna Maria. Deve ter caído quando ela foi arrumar a cama.

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- Vou fazer um café, quer?

- Aham.

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