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oDisséia dE nAtal

Meu primeiro natal longe de casa foi confuso. A começar pelo peru [ou melhor, a não começar pelo peru]. Porque em Portugal come-se bacalhau no jantar do menino Jesus. Rá. Não é nada pessoal, eu amo bacalhau. Quem me conhece pouco já sabe. Mas é que natal, peru, peru de natal [mamãe preparando o peru de natal], percebeu? Faz todo o sentido. Tudo bem, descobri que no almoço do dia 25 tem peru recheado. Mas não é a mesma coisa. Peru tem que ser no dia 24. Depois é risoto.

Por fim, juntamos alguns "familess" numa casa e fizemos o nosso próprio natal lusitano. E o jantar foi a cargo, vejam só, de moi. Sim, a responsabilidade de compensar as pessoas da distância de seus pais e avós nesta noite tão especial foi depositada em mim. Pensei logo naquele peru Sadia temperado, que é só enfiar no forno e esperar o pininho vermelho saltar. Mas em Portugal não tem pininho, nem tempero pronto. Se quiser um peru tem que matar, depenar, temperar e cozinhar sozinho. A solução foi escolher um prato mais familiar: costela de porco ao pesto e risoto [salve Jamie Oliver, salve Calebe Asafe]. A salada veio direto da Polônia.

Às 20h do dia 24 saltei do elétrico na rua Saraiva Carvalho e cheguei até a Ferreira Borges para preparar o jantar, equipado de temperos e ingredientes na mochila. Mas quando fui pôr a mão na massa, descobri que tinha esquecido em casa um ingrediente muuuito importante, o porco. E não dava nem para pedir uma pizza porque não teria ninguém para entregar.

Corri então para o ponto de táxi mais próximo e peguei o único carro que restava. Por favor, senhor, preciso resgatar uma costela de porco na Baixa Lisboa. No meio do caminho outra surpresa, eu estava sem a chave de casa. Pára o táxi! Meia volta para a Saraiva Carvalho, shifaizfavoire. Quando voltamos, a porta era diferente. Não é aqui, estamos na rua errada! Claro que é, retrucou o motorista [com uma irritação típica natalina], Saraiva Carvalho é esta, ora pois! Não pode ser, acabei de sair daqui, está diferente. Ahhhh, foi quando percebi que a rua certa era Ferreira Borges. Saraiva Carvalho era a rua do Elétrico. Chegando na Ferreira Borges, peguei a chave e fui direto para a Baixa. Subi os 5 andares de casa correndo. Peguei o porco e voltei para fazer o jantar. Ufa!

As últimas esperanças de um jantar feliz estavam depositadas em 2 bocas elétricas de um fogão estranho que eu nunca havia usado antes. Eu precisaria de 3 bocas, mas tive que fazer com 2. E após 1h30 de expectativas e reviravoltas, o jantar de natal mais confuso do mundo aconteceu: costela de porco, risoto e salada polaca. Vualà.

Ainda teve o assalto que a nossa amiga sofreu um pouco antes do jantar, quando foi à rua telefonar para a família. Levaram seu telemóvel [celular]. Situação chata para uma noite de natal. Mas pelo menos não levaram o porco.

Moral da história: não deixe um porco substituir seu peru de natal. Dá azar.

Um comentário:

Ty Nascimento disse...

Putsssssssss, se dá Azar... mas uma coisa é certa: Que jantar mais gostoso!!!!! Não tinha peru, nem a família, mas tinha a melhor família que se poderia ter nesta noite tão família. FAltou a Susie, mas o Lupa fez a vez com muita categoria!:)
Ah e o jantar, tava maravilhooooso